Vortex (2021) é um filme dramático e introspectivo, dirigido e escrito por Gaspar Noé, um cineasta conhecido por suas obras polêmicas e extremas, como Irreversível (2002), Love (2015), Climax (2018) e Lux Æterna (2019).
A trama do filme explora profundamente as fragilidades de um casal de idosos. Dario Argento interpreta um escritor renomado, enquanto Françoise Lebrun assume o papel de sua esposa, uma psiquiatra aposentada. Eles vivem juntos em um apartamento em Paris, enfrentando os desafios do envelhecimento: ele com uma condição cardíaca debilitante e ela, lutando contra a demência. Essas dificuldades acabam por afastá-los cada vez mais, levando-os a perder progressivamente o contato com a realidade.
O filho do casal, Stéphane, interpretado por Alex Lutz, tenta desesperadamente ajudar. Vivendo separadamente com seu próprio filho e lutando contra um passado de abuso de drogas, ele implora aos pais que considerem se mudar para uma moradia assistida. No entanto, o pai recusa-se a abandonar o apartamento cheio de livros e memórias de tempos mais felizes.
A situação piora quando o marido sofre um ataque cardíaco e desmaia. Na manhã seguinte, a esposa o encontra caído no chão e, em um momento de confusão, liga para seu filho. Levado ao hospital, ele não sobrevive e morre. Após a morte do marido, a realidade de solidão da esposa se intensifica, o que é visualmente representado pela mudança nas telas divididas do filme. Stéphane, devastado pela perda, busca consolo nos braços da mãe. De volta ao apartamento, ela vaga sem rumo, enquanto seu filho, em um momento de desespero, recai no uso de drogas.
O filme culmina com a morte pacífica da esposa, uma tragédia que parece ter sido induzida por um acidente com gás na cozinha. Em seu funeral, Stéphane relembra os últimos meses dedicados a cuidar dos pais e, em uma apresentação de slides, momentos da vida de sua mãe são exibidos, proporcionando um vislumbre de tempos mais alegres. Kiki, curioso e confuso, pergunta ao pai se os avós têm um novo lar agora, ao que Stéphane responde que lares são para os vivos.
Gaspar fez uma transição ousada para o “cinema da lentidão” com este trabalho além de empregar uma abordagem cinematográfica distintiva ao dividir a tela em duas partes, assim como em Lux Æterna (2019), e o diálogo completamente improvisado, atribuindo ao filme uma sensação de autenticidade crua. Estas técnicas não apenas enaltecem a separação física e emocional do casal, como também captura o lento e inexorável desmoronamento de suas vidas e mentes.
Vortex não é apenas um filme, mas uma experiência imersiva que convida o espectador a confrontar as fragilidades humanas com um olhar brutalmente honesto e, ao mesmo tempo, profundamente empático.